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A primeira carta

Minha princesa,

Hoje foi um dia bastante corrido, estou me matando de estudar pro concurso, fui ao mercado, paguei contas, carreguei bolsas, mas em nenhum momento deixei de pensar em você. Na verdade ultimamente eu só tenho feito isso o tempo todo, durmo e acordo pensando no dia em que você estará aqui conosco. Ah, hoje eu aproveitei minha ida a rua e comprei vários tecidos (cada um mais lindo que o outro) pra fazer um abajur, umas caixas, uns quadrinhos e outros enfeites pro seu quarto; e por falar em quarto, dia desses comprei pela internet um kit de cama lindo pra você.Aproveitei também pra revelar suas primeiras fotos, uma da festa do dia das crianças e a outra da primeira vez que você saiu do abrigo pra passear comigo, estas fotos me trouxeram tantas lembranças, foi um dia mágico, estava um sol maravilhoso eu fui te buscar de táxi, então te perguntei: “O que você vai querer fazer primeiro?” achando que você iria querer ir ao parque ou fazer um lanche, comprar um brinquedo mas naquele momento você já me surpreendeu, e disse: “Eu quero ir na loja comprar uma roupa bem bonita e uma sandalhinha rosa.”.Que cute, quem resiste a um pedido desses, e você saiu já toda prontinha da loja com a roupinha que você aparece na foto, foto esta que serve de papel de parede no meu computador; hoje pela manhã eu estava aqui estudando, seu pai antes de ir pro trabalho olhou pra foto e disse: “Ela é a minha cara né?!!” rsrsrsr até ele que se faz de durão já se rendeu ao seu sorriso, aliás, ele não fala outra coisa a não ser do sorriso encantador que você tem.

Bem, depois de toda arrumadinha fomos pro parque, no início você ficou meio insegura mas depois logo se soltou e brincou muito principalmente no tobogã que você adorou.

Pela manhã bati um papo com um amigo que vai cuidar do seu processo, o Tio A., ele me falou que tenho boas chances de ficar contigo, mas um prazo que eu queria tanto que ele me desse….sem chance…..não dá pra fazer uma previsão, então enquanto isso vou fazendo planos e mais planos, é tanta coisa que eu e papai queremos fazer pra você e com você, pra mim é como se nada tivesse feito sentido até agora, mas depois que te conheci minha vida mudou completamente, ficou tudo mais colorido, ou melhor, tudo ficou cor-de-rosa e lilás.

Ah minha pretinha, como sinto sua falta, ás vezes quando estou sozinha, abro a caixa em que estou guardando suas coisinhas (ultimamente não compro mais nada pra mim) fico sentindo o cheirinho de criança que vem lá de dentro, chega a doer. Tem vinte dias que não te vejo o que para mim parece uma eternidade. E não sou só eu a te esperar não, suas tias e sua avó vivem perguntando por você, querem saber quando você virá pra casa … como responder se eu mesma me faço essa pergunta todos os dias.

Por hora eu fico por aqui, já são quase nove da noite e ainda vou tentar estudar um pouquinho mais.

Fique com Deus filha

Mamãe te ama,

Até breve.

(carta escrita em novembro/2011)

Falando um pouco sobre mim

A maternidade para mim sempre foi uma coisa muito distante, mesmo quando criança eu brincava com minhas bonecas, elas nunca eram minhas filhas, nunca as ninei, as alimentei ou troquei suas fraudas, minhas bonecas eram todas modelos para as quais eu costurava vestidinhos com retalhos, eu cortava seus cabelos e fazia penteados, maquiava seus olhos e bocas, ora com a maquiagem de minha mãe, ora com canetinha mesmo.

Conforme fui crescendo, os sobrinhos foram chegando ( eu sempre gostei de ser tia), namorei, casei e aí começaram as cobranças da família “quando vocês vão encomendar um bebê” e eu sempre respondia “não queremos ter filhos”.Aí vinha aquele monte de abobrinhas” filho faz falta” ou “ah! daqui a pouco vocês mudam de idéia” ou então “é pecado falar isso, Deus castiga”. Com o passar do tempo vieram as perguntas idiotas:” Qual de vocês dois tem problema?”, já seguidas da resposta:”Façam assim, que você engravida rapidinho”, e por mais claro que fossemos ninguém entendia que nós não queríamos um filho.Ponto.

Eu curti muito meus sobrinhos pequenos, mas uma coisa era levar no parque, fazer mil vontades, passear, dar carinho, outra coisa muito diferente era ser mãe 24 horas por dia.E por mais que eu tentasse pensar no assunto(eu começava me considerar uma anormal) eu não conseguia me imaginar grávida, barrigão, bebê, noites insones, não, definitivamente isso não era pra mim.

Estávamos bem, uma vidinha tranquila, tudo as mil maravilhas, não nos faltava nada.Nada contra quem tinha filhos, adoramos criança, mas como nos casamos bem cedo, estávamos construindo nossa casa, fazendo faculdade, cuidando de nossos interesse pessoais, e nesse tempo não havia espaço pra mais ninguém na nossa vida.

Só que mais tarde, bem mais tarde, tudo isso começou a mudar…

Começando…

Enfim, após várias tentativas, hoje resolvi começar a publicar em meu blog.Quero contar aqui sobre como conheci o abrigo de minha cidade e como de lá pra cá minha vida mudou.Procuro através do blog trocar idéias sobre abrigos, adoção e maternidade.

O título do blog, se deve ao fato de ter me apaixonado por uma pequena que eu sonho em ter como filha, mas que infelizmente (ou felizmente, só Deus sabe) encontra-se abrigada mas sem DPF ainda.

No auge de minhas dúvidas e anseios, comecei a escrever-lhe cartas para que no futuro ela pudesse entender como tudo começou.Hoje não sei se será possível ficar com ela, não que eu tenha desistido, ou que meu sentimento por ela tenha mudado, de maneira alguma, mas tantas são as dificuldades que as vezes me questiono se estou fazendo a coisa certa, então resolvi relaxar e deixar que as coisas aconteçam naturalmente, de qualquer forma um dia ela saberá que houve alguém que a amou de verdade, que se importou com ela.E ela saberá também que mesmo que não seja ela a minha filha, ela foi a responsável por uma grande transformação na minha vida, por ter aberto meu coração para a maternidade.

Bem, como sou nova nesse mundo dos blogs, talvez cometa alguns error por aqui, me perdoem, conto com a ajuda de vocês para melhorar sempre, porque a vida é assim, uma eterna evolução.

Grandes Beijos!!